A Música Brasileira é, desde seus primórdios, resultado de misturas! Sim! Nossa base cultural social miscigenada nos proporciona o surgimento de estilos, gêneros e técnicas musicais tão fortes e vastos cuja riqueza rítmica e musical é reconhecida e apreciada pelo mundo.
O principal estilo e que podemos chamar originalmente de “Música Brasileira” é o Samba! No começo de tudo, século XIX – Samba – era o nome dado às festas onde se reunia a comunidade negra escrava na Bahia e, posteriormente, no Rio de Janeiro, que mantiveram e evoluíram um forte traço da cultura afro. Em encontros como esse surgiu a primeira geração do samba na marcação do maxixe e do choro com a presença de Pixinguinha, João da Baiana e Donga, esse último registrou o primeiro samba gravado, a música – “Pelo Telefone”, de 1916. Mesmo depois do primeiro registro, o samba ainda precisou de um tempo para ser moldado e produzido na forma que conhecemos hoje. Somente na década de 20, o Samba Batucado, nascido na Estácio de Sá, introduziu elementos de percussão, sendo futuramente um dos motivos de atuação da Bateria. O primeiro kit ainda teria um bom tempo pela frente para aparecer no Brasil.
No final da década de 50, o mundo conheceu uma variação do samba, a Bossa Nova, que foi conhecida mundialmente e teve “Garota de Ipanema” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), como a segunda música mais tocada no mundo, atrás apenas dos Beatles.
Um pouco antes, após a segunda guerra mundial o país conheceu o “pulso” nordestino e contagiante do Baião! Apresentado nobremente por Luiz Gonzaga, o ritmo vindo das raízes brasileiras do sertão era tocado por três instrumentos: Sanfona, Triângulo e Zabumba.
Do Recife e sob influências ameríndias, africanas e européias, das festas das coroações dos Reis do Congo surge o Maracatu! Uma manifestação cultural popular brasileira e uma linha rítmica tocada por Alfaias, Caixas, Ganzás e Agogôs. Seus ostinatos são característicos e a movimentação de cada elemento traz uma coloração especial e pulsante. Na década de 90 o movimento Mangue Beat de Chico Science e Nação Zumbi tornou ainda mais acessível o Maracatu ao país e caracterizou um marco na história da Música Popular Brasileira.
Onde entra a Bateria nisso tudo?!
Cada ritmo falado até agora, com a exceção da Bossa Nova, possui instrumentos de percussão presentes em suas células rítmicas, desde sua origem. A bateria passará a simular esses elementos dentro de suas principais linhas, por exemplo: o Triângulo do baião simulado pelo chimbal, o Alfaia do maracatu simulado pelo bumbo, o tamborim do samba simulado pelo aro da caixa e etc. Mas antes, precisamos conhecer sobre a origem do instrumento no Brasil.
Assim como nos Estados Unidos, a criação da bateria teve seu ponto de partida nas Bandas Marciais. Bumbo, caixa e Pratos tocados separadamente por cada militar. Essas bandas também estavam presentes nas festas e recepções da Realeza. Nos primórdios do cinema esses músicos faziam a sonoplastia ao vivo nas salas. Imagina-se que pela praticidade e limitação de espaço, um percussionista passou a apoiar a caixa em uma cadeira, o bumbo ao chão tocado com o pé (com chutes mesmo!) e o prato apoiado numa grade. Surgiu então a estante de caixa, não se sabe ao certo onde e por quem.
Willian Ludwig criou o Pedal de Bumbo e proporcionou a formação dos primeiros Kits de Bateria. Ludwig foi o pioneiro na fabricação e inspirou uma das primeiras fábricas brasileiras de bateria, na década de 50, a Pingüim. Foram as melhores fabricadas no Brasil até a década de 80.
Ainda nos anos 50, o batuque do samba e a bossa nova permitiam a inserção da bateria em suas leituras e dá início a trajetória do instrumento na Música Popular Brasileira. Nesse momento é de fundamental importância lembrarmos daqueles que mostraram a bateria brasileira para o Brasil e para o Mundo: Luciano Perrone (O Primeiro Baterista), Edson Machado (Samba no prato – desenvolveu a técnica de conduzir no Ride as células do samba dando característica ao jazz brasileiro) e Milton Banana (redesenhou as levadas da batera para acompanhar a bossa nova de João Gilberto, criou as levadas com vassoura na pele e baqueta no aro da caixa, bem como o bumbo da bossa nova).
A Música Popular Brasileira seguiu e ainda segue passeando, indo e voltando entre novas e velhas sonoridades, estéticas nacionais e importadas. Direcionando sons, técnicas e timbres, e a bateria, no centro de tudo, gerenciando cada núcleo musical.
(adaptação)Thiago Chaves